Um dos grandes desafios das empresas na atualidade é conseguir colocar em prática o desenvolvimento sustentável e medir o grau de sua sustentabilidade, uma vez que o cenário organizacional a cada dia se apresenta mais desafiador e competitivo. Assim, é preciso produzir mais e, nos casos dos prestadores de serviços de necessidade básica da população – como é o caso dos hospitais –, é preciso não só atender as necessidades dos usuários cidadãos, mas fazê-lo de forma otimizada, superando as expectativas das partes interessadas sem causar impactos a todo o sistema que envolve a sustentabilidade de uma organização, sendo ela pública ou privada.
É necessário também preservar a saúde e a segurança dos trabalhadores, além do atendimento aos requisitos legais e outros, de maneira a tornar ou manter a organização sustentável. Essa realidade não é diferente no caso da organização se tratar de hospitais cujos impactos da insustentabilidade atingem diretamente a qualidade da assistência ao usuário cidadão no que se tem de maior valor: a saúde e até mesmo a própria vida.
As unidades hospitalares, independentemente do tipo de financiamento ou de gestão, lidam com vidas humanas e sua sustentabilidade é fator fundamental no desenvolvimento e qualidade de vida de uma sociedade.
Quando se trata da sustentabilidade dessas unidades, além dos aspetos relacionados às dimensões básicas da sustentabilidade: econômica, social e ambiental, outros aspectos são importantes para sua avaliação. Tais aspectos estão associados à saúde e segurança dos trabalhadores que desenvolvem atividades de atendimento assistencial à população e à gestão estratégica dessas unidades, compondo respectivamente as dimensões de sustentabilidade técnica e estratégica. Sendo assim, uma vez estabelecidas as dimensões que impactam a sustentabilidade dos hospitais, torna-se necessária a definição dos indicadores de cada dimensão a serem utilizados para avaliação multidimensional da sustentabilidade do setor hospitalar.
Dessa forma, apresenta-se um modelo para avaliação multidimensional dos hospitais, por meio da definição de indicadores para cada uma das cinco dimensões de sustentabilidade: estratégica, econômica, social, ambiental e técnica, a serem usados.
As organizações, sejam públicas ou privadas, necessitam estabelecer estratégias e políticas públicas, como também implementar ferramentas de gestão para conhecer, monitorar e controlar os gaps (lacunas) que as distanciam do nível de organizações sustentáveis.
Para avaliação multidimensional da sustentabilidade do setor hospitalar, é preciso definir e selecionar os indicadores, por dimensão de sustentabilidade. Por exemplo, a dimensão estratégica está relacionada à atuação dos dirigentes frente à gestão estratégica dos recursos humanos, financeiros, de infraestrutura etc., e também no estabelecimento das diretrizes que nortearão o desenvolvimento das atividades de prestação de serviços hospitalar de forma ética e com qualidade nos seus diversos atributos.
Outro ponto importante dessa dimensão é o papel fundamental do líder como agente de mudança no ambiente organizacional, não só os líderes dirigentes, mas aqueles que coordenam e gerenciam ações das pessoas que formam sua equipe com vistas no atingimento de objetivos compartilhados, além de ser também influenciadores de vários outros pontos que contribuem para a sustentabilidade, nesse caso, das unidades hospitalares, tais como: clima institucional que incentiva atitudes inovadoras da equipe, estratégias, motivação do grupo, dentre outros.
Outros princípios importantes para a avaliação da sustentabilidade pela dimensão estratégica é a visão sistêmica na gestão da qualidade e a abordagem por processos. Dessa forma, a dimensão de sustentabilidade estratégica avaliará os aspectos relacionados à atuação do corpo diretivo dos hospitais na definição e desdobramento das diretrizes estratégicas, assim como, agente de mudança na proposta de padrões de trabalho, operacionalização destes pelos funcionários e também no estabelecimento e manutenção de um clima organizacional motivador para se tornarem ou se manterem sustentáveis.
Por sua vez, a dimensão econômica avalia o quão eficiente uma organização gerencia os recursos financeiros disponíveis. Essa eficiência deve ser avaliada com ênfase nas questões macrossociais, ao invés dos critérios de lucratividade microempresarial, que são importantes, porém não devem ser considerados como principal.
Já a avaliação da sustentabilidade econômica tem por fundamento o pensamento sistêmico, definido pela Fundação Nacional da Qualidade em seu Modelo de Excelência da Gestão – MEG, 23ª edição, uma vez que esta dimensão impacta todas as outras dimensões de sustentabilidade. Nesse sentido, a definição dos indicadores da dimensão de sustentabilidade econômica partiu dos aspectos relacionados à gestão dos recursos financeiros realizada pelos dirigentes e se ocorre o investimento de recursos financeiros nos aspectos das demais dimensões de sustentabilidade estratégica, social, ambiental e técnica.
A dimensão de sustentabilidade social se refere aos aspectos que buscam a redução da distância entre as classes sociais no que se refere aos padrões de vida de uma sociedade. E quando se trata do setor hospitalar, esta dimensão avalia o quão sustentável é um hospital quanto ao impacto dos serviços prestados na saúde da população.
Nesta dimensão, são avaliados os aspectos relacionados à prestação de serviços de atendimento hospitalar que influenciam o padrão de vida da sociedade atendida. Tais aspectos estão relacionados à qualidade do atendimento aos pacientes, níveis de controle de infecção hospitalar, qualidade da água utilizada, qualidade da alimentação servida, conduta ética dos funcionários no desenvolvimento de suas atividades, dentre outros aspectos que impactam direta ou indiretamente a saúde e qualidade de vida dos pacientes, que é a base para o desenvolvimento do “ser” na busca mais equilibrada do “ter” (SACHS, 1993). O foco principal aqui é avaliação da qualidade dos serviços prestados e dos aspectos que contribuem para a percepção da qualidade desses serviços pelos pacientes.
A dimensão de sustentabilidade ambiental é avaliada por meio dos aspectos: Uso dos recursos naturais com um menor dano possível aos diversos ecossistemas; Redução da geração de resíduos sólidos e de poluição, bem como uso de alternativas que minimizem os impactos negativos no meio ambiente; Definição de regras e procedimentos voltados para proteção ambiental e estabelecimento de requisitos legais, administrativos e outros que assegurem o cumprimento das regras definidas.
A dimensão ambiental tem como foco os aspectos relacionados à gestão dos Resíduos Sólidos de Saúde (RSS), principalmente os aspectos relacionados à legislação ambiental aplicável, as Resoluções da Diretoria Colegiada (RDCs) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), as resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), dentre outras.
A dimensão de sustentabilidade técnica consiste na avaliação dos aspectos de saúde e segurança do trabalhador no ambiente hospitalar e dos requisitos legais aplicáveis à prestação dos serviços hospitalares. Os principais pontos da NR-32, norma regulamentadora voltada para estabelecimentos de saúde, que são avaliados pela dimensão de sustentabilidade técnica, são os relacionados à exposição dos funcionários aos riscos biológicos e de acidentes com perfurocortantes; aos riscos químicos (exposição aos muitos produtos químicos tóxicos durante as atividades laborativas nos hospitais) e aos riscos físicos, como a exposição às radiações ionizantes. Vale destacar que outros pontos também importantes da NR-32 são avaliados nas dimensões de sustentabilidade ambiental, os RSSs por exemplo, e na estratégica nas questões relativas às capacitações dos funcionários.
Por fim, o modelo final proposto de avaliação multidimensional da sustentabilidade do setor hospitalar se constitui por 14 indicadores da dimensão estratégica, 13 indicadores da dimensão econômica, 14 indicadores da dimensão social, 13 indicadores da dimensão ambiental e por 13 indicadores da dimensão técnica, totalizando 67 indicadores multidimensionais a serem utilizados para identificar quais as dimensões e quais os aspectos que estão impactando na sustentabilidade dos estabelecimentos avaliados. O modelo ainda proporciona uma visualização do comportamentos desses indicadores por meio de gráfico de radar, conforme mostrado a seguir.
É com base nessas avaliações que resultados sustentáveis se tornarão visíveis promovendo a sustentabilidade do setor hospitalar dentro de padrões próprios para a melhoria do atendimento assistencial nos ambientes hospitalares, bem como na qualidade de vida da população.
CEO EXECUTIVE
Engª Eletricista, Engª de Segurança do Trabalho, Mestre em Engenharia de Produção, Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Especialista em Sistema de Gestão Integrado (SGI - ISO 9001:2015/ ISO 14001:2015 / OHSAS 18001:2007 / ISO 45001:2018); Especialista MBA em Gerenciamento de Projetos pela FGV). Auditora Lider de SGI; Green Belt – Six Sigma.
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